sábado, 27 de agosto de 2011

Que a força do medo que tenho Não me impeça de ver o que anseio..(Metade/Osvaldo Montenegro)



Acredito que todas as pessoas, independente de credo, raça, situação social, possuem seus medos e frustrações. Algumas passam a vida sem deixar vir a tona. Outros demonstram em alguma adversidade, algum momento em que a vida (ela, sempre a vida), as coloca em alguma encruzilhada.
Tenho feito auto-análises a cada dia. É um misto de alegria e medo, quando conseguimos, sozinhos, detectar em nós mesmos os nossos medos, as nossas falhas, os receios, as travas. Tenho tanta coisa guardada dentro de mim, e agora que tenho tempo de sobra pra me conhecer, tenho me surpreendido.
Sempre, a vida toda, desde que me lembro, me agradou estar rodeada de amigos. Eu sempre valorizei meus amigos e/ou colegas. De personalidade expansiva, alegre, eu sempre era a primeira a começar a rir e a última a parar. Sempre vi a vida como uma parque de diversões. A cada esquina, eu podia encontrar um motivo (bobo, que fosse), pra soltar minhas imensas gargalhadas.
Era bom, que só de lembrar daquele "eu" que agora revejo, sorrio de novo. Um riso tímido, meio de canto, meio envergonhado.
Não só o tempo, os anos, mas os acontecimentos foram me moldando. Hoje sou tão reservada até em meus sorrisos, que realmente acredito que uma grande metamorfose foi acontecendo.
Sei que não sou a única pessoa no mundo que teve parte de sua personalidade mudada por conta da vida. A vida é, com certeza, a mestra mais dedicada. Ela tenta te mostrar de uma forma, se você não vê, ela vai tentando outros métodos. Até que você aprende! E a aprendizado..ah..aprendizado! Este sim, muda você sem ao menos esforço. É automático, natural e indolor.
Hoje consigo, sem engano, entender que preocupações que meus pais tinham com minhas atitudes tinham fundamento. Hoje consigo, sem dor, estar sozinha e feliz, porque estou com o que há de mais verdadeiro neste mundo. Estar rodeada de hipocrisia, jogos de interesses, é fácil. Estar consigo mesma e conseguir ser feliz, é bem complicado.
Nunca me rendi a convenções! Hoje entendo que algumas, são necessárias. Se dobrar ao que a sociedade espera, às vezes te traz frutos que você só vai saborear depois. Não entender isso, é saborear frutos também, mas amargos.

Ao longo dos meus trinta anos tive inúmeras decepções, mas poucas, muito poucas me fizeram crescer. Eu, de natureza teimosa, insistia em viver da mesma forma, numa maneira bem particular de desafiar a vida. Hoje, me rendo á vida, como me rendo aos meus erros, aos meus defeitos, á minha solidão. Agradeço imensamente pelas dores, porque com gente como eu, aprender pelo amor é difícil. Tenho me tornado uma Priscila melhor, mas não perfeita. Me afastar daquilo que me consumia, daquilo que não me acrescentava, já foi um grandissíssimo passo. Me aconchegar em meus próprios braços, me escutar de verdade, me redimir comigo mesma, me perdoar e seguir a diante..é a minha maior vitória!

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é sexta-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca

dourada e inútil das horas...

(Mário Quintana)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Lá está ela....ela sou eu!



Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça, ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário, por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
[ Caio Fernando Abreu]

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Viagem



"Uma longa viagem começa com um único passo."

Lao-Tsé



Partindo do princípio de que esse ano, até então, só tinha me trazido dissabores, dores, decepções e choros, qualquer coisa que eu pudesse fazer pra me tirar do lugar comum, só me faria bem. Foi dessa forma que recebi o convite de minha tia Nadir e minha prima/irmã Renata. É como se nessa viagem, eu fosse encontrar algo muito valioso, que nem eu mesma sabia o que poderia ser. Só tinha essa certeza, dentro de mim, de que seria importante, e de que não seria apenas uma viagem.
Mato Grosso, naquele região em que estive, é riquissimo em cultura diversificada. Canarana é uma cidade que foi colonizada por gaúchos, e abriga de sulenses à indígenas. Por ser cidade muito próxima à Reserva Nacional do Xingu, recebe visitantes inúmeros, desde ricassos anônimos à celebridades, que tem de passar por ali pra chegar à reserva. Além disso, a região é rica em rios, trazendo em todas as épocas do ano pescadores de todas as partes do país, inclusive de outros países também. Levando esses fatores em consideração, é uma cidadezinha que cresce a cada ano, e que está sempre movimentada por um ou outro acontecimento.
Meus familiares moram há mais de dez anos ali, e já tem raízes. Já se adaptaram ao povo, aos costumes, ao tempo árido, aos índios. Desde o momento em que pisei os pés ali, senti uma força maior que me invadiu, primeiramente pela linda recepção de uma parte (e mais importante) de meus familiares e também pela energia que paira naquele lugar. Já me senti rejuvenescida e mais bonita, a partir da chegada.
Nos dias que se seguiram (foram quase vinte ao todo), tive tempo de sobra pra pensar. Pensar em silêncio, eu comigo mesma. Repassar em minha mente acontecimentos, bons e ruins, encontrar respostas, encontrar saídas. A cada passeio eu respirava um novo ar, que me tirava de um estado quase de vegetal em que eu estava antes de ir pra lá.
Sentir-se amada, da forma em que me senti por minha familia, eu e minha filha, me fez muito bem. Tanto sentimento me fez reencontrar em mim pontos positivos que as adversidades da vida haviam me feito esquecer. Não há nada pior que esquecer o nosso próprio valor. E era assim que eu estava antes dessa viagem. Havia me esquecido de quem eu sou...e o porque de ter nascido. Havia me esquecido que estou viva e que sou feliz! Que tenho todos os motivos pra ser feliz de verdade e que sempre fui a mais animada da minha turma, desde a escola. Fui me redescobrindo, como uma aventureira que quer explorar cada cantinho de um novo lugar, e no caso, era cada cantinho de mim que eu tinha q voltar a ver. E vi.
Entre risos, gargalhadas, choros eu pude me ver de novo, como há um bom tempo eu não me via. Me permiti e vivi momentos que jamais esquecerei! Enfim, eu havia encontrado aquilo que eu sabia que ia encontrar. Eu me encontrei de novo. Era isso, que meu sexto sentido aguçado me dizia nas vésperas dessa viagem. Eu teria um encontro crucial comigo mesma. E voltei a viver!

Agradeço principalmente a minha tia Nadir, Renata, Pedro, Juan e tio Reyes. Sem o apoio de vocês, eu não teria encontrado aquilo que eu estava ávida a encontrar. Obrigada pelo amor que me deram a cada momento sem medida. Agradeço à minha mãe, minha irmã, minha filha e meu pai, que mesmo onde está, sei que esteve comigo à todo tempo. Agradeço à festeira Maria Regina, que me acompanhou numa noite animada e cheia de surpresas. Agradeço ao forasteiro hipiie de alma que encontrei por acaso, e que me mostrou com sua filosofia de vida despreendida e feliz, que viver ainda é o meu barato!